O projeto para a expografia da 30a bienal pode ser dividido em duas frentes, que desenvolvi paralelamente: criar um sistema modular que permitisse flexibilidade e agilidade na montagem, visto que pela avaliação preliminar das ideias da curadoria seria uma bienal que exigiria muitas “paredes”; e criar instrumentos de projeto que pudessem incorporar de fato os curadores no processo de definição do espaço.
Fizemos três tipos de painel apenas, sem corte de madeira, com altura diferentes, o que permitiu uma linha de montagem supereficiente, e fiz uma grande maquete do pavilhão, em escala suficiente para ver e avaliar em 3 dimensões cada espaço e, como num jogo de armar, reproduzimos o sistema de painéis. Com essa ferramenta montamos e desmontamos a exposição quase diariamente com os curadores e produtores, em um escritório dentro do pavilhão da bienal, por 3 ou 4 meses, deixando a forma final em suspenso até todas as variáveis se estabilizarem. Além disso fizemos em escala real três salas, usando o sistema modular que inventamos, em um andar livre do pavilhão. Além de ajudar a detalhar e afinar o desenho do sistema construtivo, deu aos curadores, produtores e designers, uma referência real do que a maquete representava.
Além do partido geral, algo muito importante para o êxito da expografia de ter “projetado”, inventado, um processo de construção dessa expografia, envolvendo ativamente todos os agentes.
Outro fator influente no resultado foi a familiaridade com o edifício de Oscar Niemeyer – um pavilhão de dimensões monumentais, com 250 metros de comprimento e 50 m de largura, com 25 mil metros quadrados – adquirida como coordenador da equipe do Paulo Mendes da Rocha do desenho das expografias da 23a e da 24a Bienais e na coordenação dos trabalhos da arquitetura da exposição “Brasil 500 anos”.
O principio estruturador do projeto expográfico foi criar diferentes ambientes para a percepção das obras, segregando a circulação mais geral, a de ir de um lugar ao outro, da circulação junto às obras, com dois ritmos, ou velocidades diferentes. Portanto ao mesmo tempo que fizemos recintos mais reservados e densos de informação, nos espaços “fora” desses ambientes, os de circulação, quase não havia obras à vista. Esse silencio visual foi importante para permitir alternância entre descanso e foco. O desafio foi conseguir criar, ao mesmo tempo, ambientes reservados e fluidez de percurso.
Como adicional a isso tivemos um trabalho bastante intenso no controle sonoro, usando materiais fonoabsorventes, que não estavam a vista mas eliminaram um ruído de fundo muito incomodo e normalmente não percebido, mas que torna a permanência no pavilhão cansativa após algum tempo.
Por termos no escritório um trabalho 90% focado em projetos de edifícios ou urbanos, usamos o recurso de fugir do repertório da expografia tradicional, com investigação construtiva e incorporando soluções mais arquitetônicas que museológicas.
– memorial descritivo do projeto, por Martin Corullon
Data do projeto: 2012
Data de conclusão: 2012
Equipe: Martin Corullon, Helena Cavalheiro, Felipe Fuchs, Bruno Kim, Marina Ioshi, Rafael de Sousa, Francisca Lopes
Fotografia: Leonardo Finotti